Ali Khamenei: conheça o histórico do líder supremo do Irã
20/06/2025
(Foto: Reprodução) Khamenei acumula as funções de líder político e líder religioso. É o responsável pelas decisões estratégicas da nação, como as de política externa, segurança e forças armadas. Quem é o líder supremo do Irã? História do aiatolá se entrelaça com a do país
Um único homem controla o governo do Irã. Dizem que ele não sai do Irã desde 1989, quando foi coroado líder supremo. Dizem ainda que sua escolha foi uma surpresa porque nem todos o julgavam qualificado para suceder Ruhollah Khomeini, o fundador da república islâmica.
Ali Khamenei tinha sido vice-ministro da defesa, e presidente durante a guerra com o Iraque. Mas não um dos líderes da revolução. Ele sequer tinha o título de aiatolá.
Khamene nasceu em 1939 em Mashhad, cidade sagrada para os xiitas. O segundo de oito filhos, de uma família pobre e devota. Cresceu sob a monarquia do xá Reza Pahlavi — num momento em que o Irã era aliado dos Estados Unidos e até de Israel.
O Irã — de origem persa — buscava conter o predomínio árabe no Oriente Médio. Mas aquele país que respirava cultura americana e europeia também reprimia quem discordasse do governo. Não demorou para que uma ideologia anti-ocidental crescesse na sociedade e dentro de Khamenei.
Quando o Irã começou a se rebelar contra a monarquia, juntou-se aos protestos, acabou na prisão e, em 1977, no exílio, que não durou muito. A revolução islâmica de Khomeini, em 1979, derrubou o xá e marcou uma mudança radical na política externa do país.
O Irã passou a pregar a eliminação do Estado de Israel. E a chamar os Estados Unidos — antigo aliado — de “grande satã”, símbolo do imperialismo ocidental.
A ascensão dos clérigos xiitas foi a porta de entrada de Ali Khamenei ao poder. Virou homem da confiança do líder supremo. Esteve ao lado de Khomeini nos momentos mais difíceis — na guerra contra o Iraque, que se arrastou por oito anos e terminou com um cessar-fogo, que o aiatolá Khomeini nunca digeriu.
Foi nesse período também que o Irã começou a financiar e a armar extremistas como o Hezbollah, no Líbano. E, mais tarde, os terroristas do Hamas, na Faixa de Gaza. Era a chamada guerra por procuração — que, ao longo das décadas seguintes, provocou diferentes atentados contra cidadãos israelenses e ocidentais.
Desde a morte de Khomeini, em 1989, Ali Khamenei lidera esse país de 90 milhões de habitantes e uma história que se funde com a antiga Pérsia.
O seu poder é proporcional ao dos grandes ditadores. O Irã é uma teocracia. Por isso, Khamenei acumula as funções de líder político e líder religioso. É o responsável pelas decisões estratégicas da nação, como as de política externa, segurança e forças armadas.
Ele pode anular as decisões do presidente e tem o poder de demitir qualquer membro do governo a qualquer momento, sem os votos do parlamento. Se apresenta como o guardião dos valores da revolução islâmica: justiça social, independência nacional e governo islâmico.
Mas, diante do seu povo, Khamenei usou a força para reprimir a dissidência. Como a Onda Verde de 2009, que protestou contra a reeleição do presidente conservador Ahmadinejad. Ou em 2019, quando as periferias se revoltaram contra o aumento dos preços dos combustíveis.
A onda de protesto mais recente foi em 2022, depois da morte da jovem Mahsa Amini, sob custódia da polícia moral iraniana. Ela tinha sido presa por não usar o véu islâmico corretamente e, segundo a família, foi espancada pelos agentes.
O gesto de retirar o hijab e cortar o cabelo em público se tornou um símbolo das manifestações. O governo reagiu com a receita das ditaduras: violência, prisões arbitrárias, mortes, perseguição a jornalistas e censura da internet.
"Olhando a carreira de Ali Khamenei, eu acho que, em geral, uma pessoa pouco flexível, muito radical. É um defensor da linha dura que possui visões muito conservadoras sem dúvida, uma pessoa temida, mas também odiada por muitos iranianos que sentem que o governo não permite que a sociedade possa prosperar culturalmente, socialmente", destaca o professor de Relações Internacional/FGV, Oliver Stuenkel.
Nos últimos anos, Khamenei viu a popularidade do regime cair, por causa da insatisfação com a economia cambaleante. A inflação disparou, o desemprego está em alta e a exportação de petróleo já não é mais a mesma. Muito por causa das sanções impostas pelo Ocidente — em represália ao programa nuclear iraniano.
O líder iraniano sobreviveu a um atentado em 1981 e tem a mão direita paralisada. Também se recuperou de um câncer em 2014. Desde a morte de Hassan Nasrallah, que comandava o Hezbollah, o Irã aumentou as medidas de segurança para o aiatolá.
Em um país em que todos os veículos de imprensa são controlados pelo regime, não são muitas as informações sobre o paradeiro do líder supremo. Dizem que agora ele está morando num bunker subterrâneo, no nordeste de Teerã, desde que Israel começou a atacar a capital. E que está ali com toda a família.
O seu segundo filho, Mojtaba, é visto como o seu sucessor.
"Se houver numeroso ataques israelenses contra os centros urbanos iranianos por semana e aquilo desestabiliza a economia iraniana, produz grande destruição e o governo evidentemente é incapaz de proteger a população iraniana, em algum momento, o governo pode perder legitimidade", diz o professor de Relações Internacional/FGV, Oliver Stuenkel.
Falam que, no fundo, ninguém sabe ao certo quem é Ali Khamenei. E que a força do seu carisma é o segredo.
Na fragilidade do momento atual, com um conflito que não se sabe para onde vai, também o seu país é frágil. E ele, Ali Khamenei, pode ter que repetir as palavras atribuídas ao seu antecessor: Beba o cálice amargo da trégua.
Conheça o histórico de Ali Khamenei, o líder supremo do Irã
Reprodução/TV Globo
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